Inacreditável Jornalismo Esportivo

17.8.11


Na faculdade onde estudei, havia um professor no curso de Comunicação Social que dizia que jornalismo esportivo qualquer adolescente de 12 anos era capaz de fazer. Acho isso ofensivo aos adolescentes, se formos avaliar os repórteres esportivos da Rede Globo.

Já havia dito aqui sobre o desrespeito com o Paraguai durante a Copa do Mundo no ano passado. Os jornalistas do Sportv ofenderam o país vizinho, mas creio que acima de tudo, mostraram em público o quão ignorantes eles próprios são.

Esses dias, mostraram uma reportagem sobre Marcha Atlética no Globo Esporte em que ridicularizaram a modalidade. O que não é futebol não é valorizado pela mídia, mas depreciar outro é inaceitável. Aliás, ali tentaram ofender, a meu ver, os homossexuais também. Paradoxal essa emissora, enquanto a novela Insensato Coração mostra o absurdo da violência contra gays no horário nobre, na hora do almoço devemos observar a veiculação de preconceito. O repórter o tempo todo usava a palavra "esquisito" ao se referir aos movimentos dos quadris durante a corrida. Ele pediu ao atleta para ensiná-lo. Fez os movimentos dos pés, porém na hora dos quadris, o repórter "machão" falou na cara do esportista que aquilo era esquisito e que não iria fazer. Só faltava dizer, "seja macho, jogue futebol".

Mais recente foi a lamentável reportagem (se é que podemos chamar assim) sobre uma bandeirinha durante a partida entre Corinthians e Ceará pelo Campeonato Brasileiro. Resumindo, foi a perseguição do repórter à mulher que estava ali trabalhando. Ele não. Ficava babando em cima da moça, fazendo comentários machistas a respeito de sua beleza, como se nunca tivesse visto uma mulher na vida. Ainda por cima ficava incentivando os jogadores a dizerem o que achavam dela, não como profissional, mas como objeto de prazer. E sabe como é né, homem que é homem, mesmo casado, se não concordar que determinadas mulheres são bonitas, são tachados de gays. E isso eles não querem. É preciso ter muita coragem de dizer que não gosta de futebol num país como o nosso.

Não era só o repórter, o câmera ficava mostrando a bandeirinha de cima a baixo. Engraçado, depois dizem que mulher não entende nada de futebol e fica só falando da beleza das pernas dos jogadores. Mas, os narradores o que fazem quando veem a goleira dos Estados Unidos, Hope, por exemplo? Ficam babando e comentando como é linda durante o jogo. Isso é jornalismo? Onde está a ética?

Outro desrespeito é o quadro Inacreditável Futebol Clube em que repórteres saem à caça de jogadores que "pisaram" na bola e fizeram alguma jogada muito errada. Perturbam a vida do cara até ele vestir a tal camiseta em que admite ter falhado. Um erro sem importância, sem maiores problemas. Devemos levar isso a sério? Uma total falta de vergonha na cara dos ditos jornalistas. Esses sim precisam saber que esporte não é brincadeira para ficarem fazendo matérias ultrajantes, eles que cometem erros lamentáveis, não aprendem e continuam repetindo as mesmas falhas. Talvez seja a hora de darem espaço aos meninos de 12 anos para conduzirem as reportagens.

3 comentários:

Eugenio Hoch Junior disse...

Parabéns pelo seu texto. Eu por não gostar de futebol não tenho medo do que os outros irão dizer, porque acho que torcedor precisa de um alicerce para provar que é macho, e onde melhor que um lugar cheio de machos gritando e cantando juntos com outros machos para ver outros machos correndo atrás de uma bola? Só no nosso querido esporte, claro(estou sendo sarcástico).

Jaime Guimarães disse...

Muito bom o seu texto, concordo com tudo o que está escrito aí. Uma vergonha o tal "jornalismo esportivo" que temos por aí atualmente - a Globo, por ser a maior emissora do país e detentora de direitos de transmissão dos jogos do campeonato brasileiro e seleção, ganha mais evidência, mas em geral temos exemplos deploráveis em outras emissoras também. ( tanto rádio e TV)

Falando da Globo, é incrível o "padrão" que estão seguindo atualmente. Ao assistir o programa "Esporte Espetacular" nos deparamos com um festival de bobagens: João Sorrisão, um quadro com o tal Felipe Neto chamado "Sem Noção" ( ao menos o nome é adequado), as reportagens de Régis Roesing - e sejamos justos: as matérias deste repórter trazem pautas interessantes, sem dúvida, mas insistem em carregar na "glicose", transformando uma boa ideia em um quadro melodramático.

E nada contra as pessoas da Glenda e do Tande, mas para quê tanta efusividade? E no Globo Esporte a coisa não é muito diferente... coitado de quem não gosta de futebol mas adora outros esportes como basquete, tênis, atletismo...

abs

Anônimo disse...

Concordo plenamente. E vc esqueceu de mencionar o fato de forçarem a barra para tornar jogadores de futebol ídolos da nação. Apesar de um moleque como o Neymar ser um total alienado, preocupado apenas com fama, mulheres, dinheiro, carrões... temos que aceitar ele como exemplo para as crianças. É muita mediocridade.