Caretas

5.8.11

Quando eu e meu irmão do meio éramos crianças, algumas vezes no carro, nos comunicávamos com motorista e passageiro do veículo de trás. Dávamos tchauzinho, fazíamos sinal de positivo, sorríamos. Éramos sempre retribuídos também com acenos. Porém, crianças levadas, também fazíamos sinais não muito amigáveis. Não levantávamos o dedo do meio porque naquela época isso não era comum no Brasil. Certamente se conhecêssemos, também faríamos. Quando aprontávamos, escondíamos os rostos atrás do banco. E ríamos muito pelas travessuras.

Agora adulta e motorista, sempre tenho a impressão de que as crianças dos automóveis em frente ao meu quando estão viradas para trás, agirão com desrespeito. Nunca ocorreu, mas seria uma boa lição para aquela Luizinha do passado.

No final do ano retrasado, meu pai e eu estávamos no carro aguardando o sinal abrir. Havia mais três carros em nossa frente. Estávamos com certa pressa e aquele semáforo demorava muito para abrir e ficava pouco tempo aberto. Havia um casal em um carro querendo sair do estacionamento. Meu pai não estava com tempo de deixá-los passar e o rapaz começou a acelerar o carro para mostrar irritação. Quando o sinal ficou verde e os carros começaram a se movimentar, a moça começou a fazer careta para mim em sinal de insulto. Meu pai não tinha obrigação alguma de ceder lugar, seria sim uma gentileza, porém, estávamos com pressa. Eles conseguiram passagem logo após nós e ainda passaram no sinal vermelho. Se tivéssemos dado a vez, ficaríamos mais um bom tempo parados ali.

Hoje, eu estava atrás de uma Kombi cheia de crianças. Vi que eles olharam para um carro parado onde havia um pastor alemão. Elas ficaram contentes e sorriram. Eu também sorri por ter visto o cachorro. Algumas crianças olharam para mim e riram. Enquanto aguardávamos o sinal verde, acenei e elas retribuíram. Como não paravam de olhar, continuei sorrindo e comecei a fazer caretas. Os meninos repetiam as mesmas contorções faciais que eu fazia. Depois, cutucaram uns aos outros para também entrarem na brincadeira. Não houve travessura ou qualquer tipo de inimizade, simplesmente pessoas desconhecidas que ganharam o dia num trânsito em que qualquer besteira leva a brigas absurdas e desnecessárias. Foram caretas pós-sorrisos e isso foi interpretado certeiramente como uma brincadeira divertida. As crianças entenderam bem isso. Os adultos precisam aprender com elas a não levar as coisas para o lado do conflito.

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