A cada quatro anos

5.7.12


“As Olimpíadas não são uma manifestação de saúde. São uma exaltação do desejo de ser o maior. Prova disso são os dopings. Os atletas sabem que faz mal à saúde. Pode matar. Mas uma morte prematura bem vale um lugar no pódio!”  Rubem Alves

Acho que era uma propaganda da Sadia, em que algumas crianças brincavam e diziam: “brincando nada, treinando para as Olimpíadas do ano 2000”. Eu adorava ver esse comercial, gostava de acompanhar as competições. Até hoje comentam sobre o encerramento das Olimpíadas de Moscou, em 1980, com o urso Misha chorando. Eu só tinha um ano. Se vi, não me recordo. Claro que posteriormente assisti às imagens. Porém, tudo ficou mais claro quando descobri que havia também uma competição entre Capitalismo e Socialismo, o uso dos atletas pelos governos, numa demonstração de força, de quem era o melhor.

Foram os jogos olímpicos em Los Angeles (1984) que me marcaram, e certamente muita gente, por causa da suíça Gabrielle Andersen-Scheiss. Era a estreia da maratona feminina em Olimpíadas. Gabrielle estava com 39 anos e chegou à reta final sentindo fortes dores e desidratada. Ela não desistiu, porque, como ela mesma disse posteriormente, além de ser a primeira e última vez que participaria de um Olimpíada, já que a idade não permitiria mais, quem aceitasse auxílio dos médicos durante a prova era desclassificado. Após verem todo o sofrimento da atleta, membros da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) criaram o artigo Andersen-Scheiss que permite o atendimento médico aos atletas sem que sejam desclassificados por isso.

Eu gostava muito de ver as competições, de torcer, como escrevi anteriormente, até que percebi ser algo vazio. A IAAF tomou uma atitude somente após Gabrielle chamar a atenção do mundo com o absurdo do tratamento dado aos atletas. Depois de ler a opinião de Rubem Alves sobre os jogos olímpicos, reforcei ainda mais minha ideia. O que se exige do atleta é irracional, a ponto de ele cometer barbaridades. “Uma pessoa que passa dez anos de sua vida treinando seis horas por dia não por prazer, mas para sair da piscina um centésimo de segundo na frente da marca olímpica só pode ter ódio da água. A água é o inimigo a ser vencido (...) Tocada a borda da piscina, para onde olham os nadadores? Olham para o placar onde aparece o tempo”.

E o que dizer dos esportistas que utilizam da desonestidade nas competições, como o doping, um descuido do árbitro ou um pênalti simulado só para ter mais chances de marcar o gol? Será que se sentem orgulhosos, se sentem os melhores? Quando estão sozinhos, e veem a própria imagem, será que a consciência não aponta para um reflexo vazio?

2 comentários:

Eugenio Hoch Junior disse...

Pois é, cada dia que passa você escreve melhor. Também, você é uma pessoa que lê bastante, e sempre está buscando informação e procurando aprender mais, não é mesmo? Esse texto e todos os outros deste blog sempre são agradáveis de ler, me instigam a curiosidade e me faz pensar na sorte que eu tenho de ter você perto de mim. Continue escrevendo. Te amo, Pituca!!

Anônimo disse...

Quando teremos novas atualizações?