A Física e a Gramática

22.10.12


De uma forma bem simples, farei a comparação entre Física e Gramática Tradicional, também conhecida por Normativa ou Prescritiva. Os físicos observam o comportamento de um objeto em determinadas condições, fazem experimentos, testam, descrevem fenômenos até formular “regras” ou “leis” que se repetirão naquelas mesmas condições. Os gramáticos tradicionais, por outro lado, não observam como as pessoas falam ou escrevem. Eles ditam regras estilísticas de como os falantes devem utilizar a linguagem. Ditam normas que serão impostas em aborrecedoras aulas de Língua Portuguesa.

Porém, ao contrário dos gramáticos tradicionais, os linguistas tentam formular regras descritivas que expressam generalizações e regularidades sobre vários aspectos de uma língua. Ou seja, como fazem os físicos e demais cientistas, observam, no caso, a maneira como as pessoas utilizam a linguagem, sem se importarem se estão de acordo com o que dita a Gramática Normativa. A Linguística é uma ciência nova perto da Física, e por isso, ainda encontra obstáculos em sua aceitação.

A Física não quer prescrever como os corpos devem se comportar. “A partir de hoje, fica instituída a proibição da inércia ou a queda livre”. Isso é tão absurdo, mas não nos parece estranha a ideia de se impor regras estilísticas para a fala ou para a escrita. Isso ocorre porque durante muitos anos, a Gramática Tradicional ocupava grande parte das aulas de Língua Portuguesa. Além disso, as pessoas, apoiadas nessas tradicionais aulas, têm o costume de corrigir os demais falantes e de taxar de ignorante aquele que não segue as regras impostas pela Gramática Normativa.

As regras prescritivas determinam o modo como o falante supostamente deveria falar ou escrever para parecer correto ou culto. As regras prescritivas, assim, são regras estilísticas e não gramaticais. A classe dominante utiliza a norma culta por dar mais status, ao contrário da variante popular. Vira uma forma de segregação, apoiando-se entre outros fatores, no modo como as pessoas se comunicam. A norma culta é necessária, mas somente ficar restrito ao ensinamento da mesma é falha. Felizmente muitos educadores, tardiamente, diga-se de passagem, estão se dando conta disso. O problema reside na resistência de se aceitar mudanças no currículo escolar consideradas profundas, tanto pela mídia quanto pela sociedade em geral.

Outra comparação entre Física e norma culta está no fato de não haver uma unidade de medida mais correta que a outra com relação à temperatura. Não podemos dizer que Fahrenheit é mais certa do que Celsius ou Kelvin, simplesmente por se tratarem de convenções adotadas pelos indivíduos. Assim também ocorre com a linguagem, existem padrões diferentes e dizer que um é mais correto do que o outro é a mesma incoerência entre as escalas de medidas de temperatura. As duas variantes, norma culta e popular cumprem com eficácia o seu papel como meio de comunicação. Por isso, não existe uma mais correta do que a outra.


2 comentários:

Eugenio Hoch Junior disse...

O que comentarei aqui nada tem a ver com o texto desta postagem, mas eu preciso fazer essa pergunta: agora que você terminou a sua quarta faculdade, verei (ou veremos) novos textos neste blog? Por favor, não deixe de escrever, nem que seja uma linha. Beijos de seu fã nº 1.

Karam Jr, Elias disse...

Concordo com meu querido genro Eugênio sobre a continuação constante e sem interrupções de seus importantes textos neste blog.
O Eugênio pode e deve ser seu fã nº1, porém sou seu fã Hour Concour, desde o momento da fecundação que a originou,querida filha.
Sobre este texto seu brilhantismo como sempre, brilhou mais uma vez ao fazer a comparação entre a Física e a Gramática.
Prende o leitor a uma leitura contínua e singularquerendo ver até onde vão as comparalçoes muito pertinentes.
Parabéns mais uma vez por nos agraciar com seus textos sempre inteligentes e que nos aguça nosso espírito crítico.