As mulheres dos Chicos

12.4.12

Lá, em um lugarzinho escondido dos rascunhos de meus posts, achei esse perdido, escrito em 2008. Só não sei por que não havia publicado antes. Reproduzo-o aqui, sem mexer em nenhuma vírgula. :

Todas as quartas-feiras à noite eram iguais. Volume da velha Telefunken quase no máximo, e ai de quem desse um piu. Silêncio total. Barulho, só o da televisão. Parecia até espera de um pronunciamento do Papa ou do presidente, “brasileiras e brasileiros”, com o anúncio de um novo plano econômico. Ou quem sabe até os temidos microfones do plantão da Rede Globo.

Nada disso. Algo mais grave? Errado. Por incrível que pareça, todo o ritual de rodar o seletor de canal até o 12, o botão do volume para cima e o silêncio na sala era para acompanhar um programa de humor. Chico Anysio e sua turma, que não era pequena, causava gostosas gargalhadas em minha mãe. Tempos depois fui saber que todos eram personagens criados e interpretados por ele. “Até a Neyde Taubaté? Mas tinha certeza de que era uma mulher!”

Alguns anos depois, apaixonei-me por outro Chico, o Buarque. Não exatamente por ele, mas por todo o trabalho do homem que é, para mim e para muitos, o maior expoente de nossa cultura. Faz de tudo, assim como o Anysio. Músico, escritor, dramaturgo, até ator já foi o tímido Buarque. Escreve na primeira pessoa o sentimento feminino. Tatuagem, Olhos no olhos, Atrás da porta, Teresinha, Com açúcar, com afeto e A violeira são apenas alguns desses exemplos.

Quando começo a pensar em voz alta sobre alguma obra de Chico Buarque, solto:

– Ah, o Chico é o máximo.

E escuto de meu companheiro Eugenio:

– Quem, o Anysio? Com certeza.

– É, não poderei negar, mas quando falo somente Chico, é o Buarque.

– Já para mim, somente Chico é o Anysio.

Pontos de vista diferentes apenas. Ambos corcordam que os dois Franciscos são exemplos de genialidade, não há dúvida.

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