"E assim viver aqui
Nas ruas onde eu cresci".
Onde eu cresci (Cidadão Quem)
Bob (que era fêmea), os filhotes, meu irmão (com uniforme antigo do Atlético-PR) e eu (friorenta como sempre) |
A vantagem de se morar em prédio durante a infância é que dificilmente será demolido. Então, passar por ele é relembrar de um tempo muito bom. Digo bom porque lá na época de criança, há uma certa despreocupação, uma sensação de segurança e amparo. A primeira recordação que tenho de minha vida sou eu descendo as escadas do primeiro prédio onde morei.
Hoje, fui ver um apartamento no edifício onde vivi até os seis anos de idade. O saudosismo tomou conta de mim, tive de segurar o choro quando olhei para cima e vi a mesma árvore de ipê amarelo com um galho que alcançava a janela do meu quarto. Ainda está lá, com as folhas quase a entrar pela janela. Era lá onde havia bastante criança para brincar.
Ruas próximas, que há menos de 30 anos não eram asfaltadas, agora viraram parte de um bairro nobre. Eu ia sozinha comprar bala em um bar ali perto. Naquela época era assim, comprávamos doces no meio de bêbados e não havia tanto perigo. Ao meio-dia em ponto, soava o apito de uma fábrica próxima anunciando o fim da brincadeira. Deveria subir para colocar o uniforme e esperar o ônibus escolar. No prédio, não havia grades, a rua era sem saída. Agora, abriram a rua e fecharam o condomínio. Mas, continua sendo igual, a fachada, o espaço. Havia dois elevadores, um para os andares pares e outro para os ímpares. Como morei no quarto andar e depois no sexto, sempre pegava o elevador da esquerda. Às vezes, tinha sonhos esquisitos em que entrava no elevador dos ímpares e ele, maligno, trancava ou parava no andar errado, como se eu não tivesse o direito de subir nele. Por um bom tempo, mesmo não morando mais ali, continuei com esses pesadelos.
Engraçadas são as imagens que guardo. Um menino mais novo do que eu comendo laranja, esperando sua vez para andar de bicicleta; um homem cabeludo, andando vagarosamente com um violão na mão; eu descendo as escadas com três anos. Tinha apenas seis anos quando saí de lá, e desses, me recordo apenas de três, não lembro, por mais que me esforce, do meu tempo de bebê. Entretanto, foi intenso, depois de sair dali, morei em outro prédio por doze anos, o dobro, e não tenho tanta ternura como tenho do lugar onde aprendi a andar. Por causa do movimento das nuvens, eu gostava de olhar pra cima e ter a impressão de que o prédio estava caindo. O muro gigantesco que eu adorava pular, agora é pequeno.
Ruas próximas, que há menos de 30 anos não eram asfaltadas, agora viraram parte de um bairro nobre. Eu ia sozinha comprar bala em um bar ali perto. Naquela época era assim, comprávamos doces no meio de bêbados e não havia tanto perigo. Ao meio-dia em ponto, soava o apito de uma fábrica próxima anunciando o fim da brincadeira. Deveria subir para colocar o uniforme e esperar o ônibus escolar. No prédio, não havia grades, a rua era sem saída. Agora, abriram a rua e fecharam o condomínio. Mas, continua sendo igual, a fachada, o espaço. Havia dois elevadores, um para os andares pares e outro para os ímpares. Como morei no quarto andar e depois no sexto, sempre pegava o elevador da esquerda. Às vezes, tinha sonhos esquisitos em que entrava no elevador dos ímpares e ele, maligno, trancava ou parava no andar errado, como se eu não tivesse o direito de subir nele. Por um bom tempo, mesmo não morando mais ali, continuei com esses pesadelos.
Engraçadas são as imagens que guardo. Um menino mais novo do que eu comendo laranja, esperando sua vez para andar de bicicleta; um homem cabeludo, andando vagarosamente com um violão na mão; eu descendo as escadas com três anos. Tinha apenas seis anos quando saí de lá, e desses, me recordo apenas de três, não lembro, por mais que me esforce, do meu tempo de bebê. Entretanto, foi intenso, depois de sair dali, morei em outro prédio por doze anos, o dobro, e não tenho tanta ternura como tenho do lugar onde aprendi a andar. Por causa do movimento das nuvens, eu gostava de olhar pra cima e ter a impressão de que o prédio estava caindo. O muro gigantesco que eu adorava pular, agora é pequeno.
Conversei com a nova zeladora, não era daquele tempo. Falei sobre uma gatinha que vivia por ali e que os moradores alimentavam. Servia para caçar os ratos, às vezes dormia na portaria, subia as escadas e arranhava a nossa porta atrás de leite. Éramos os que mais cuidavam dela. No Natal, meu pai comprava sardinha para a gata. Ninguém reclamava. Pensei não ser mais possível hoje em dia, mas a zeladora disse que há uma gatinha, a Mimi que anda por lá. Os moradores fizeram vaquinha para castrá-la. Não tem dono, vive por ali, como a nossa gata do passado.
Um prédio simples, onde havia uma gata e um cachorro, que depois descobrimos ser cadela, com quem brincávamos. A mulher do zelador daquele tempo me chamou de maluca quando falei em aparar os bigodes da gata. Ela disse que eu não podia fazer aquilo porque a gata não conseguiria mais caçar. Nunca cortei, mas imaginei-a pegando os ratos com os bigodes. Não entendia serem eles uma espécie de sensor, então, na minha cabeça, vinha a imagem de ratinhos enrolados no bigode da gata.
Não sei se voltar a morar lá seria bom, se não iria acabar com aquelas lembranças boas e criar novas. Talvez o encanto se perdesse. Misturariam-se novas experiências, agora adulta, com o olhar infantil. Às vezes é melhor ficar a saudade boa. Quando ela bate, é só passar por lá e relembrar. Há cercas, mas através delas dá para ver tudo, inclusive as colunas onde brincávamos de esconde-esconde. E direcionando o olhar mais pra cima, até o topo, dá até pra ver, parece que o prédio está se movimentando...
Explicação do quinto item do post Meme.
A gata deitada no presépio |
Explicação do quinto item do post Meme.
5 comentários:
me fez lembrar da época em que morávamos no Magnólia, tive a oportunidade de morar em dois momentos diferentes no mesmo apartamento, só meu pai mesmo.... lembra quando brincávamos de "espionagem", eram realmente teses mirabolantes, lembra do verso "anti-Collor" e também quando fomos até a boca-maldita para ouvir o Brizola e no final nem comseguimos vê-lo, sua mãe quem no levou lá e depois fomos na confeitaria. Admiro muito sua mãe, sempre muito bacana, bonita e inteligente. Lembra das aulas de violão que aquele senhor queria nos ensinar sempre a mesma música? Seu irmão sempre estava com camiseta do Atlética, eu nem sabia de qual time era, pois havia me mudado para Curitiba há pouco tempo. Nesses tempos reencontrei a Flavia num curso e demos muita risada, temos que nos reencontrar juntamente com a Flávia e a Juliana para a sessão nostalgia. E uma vez no Natal que resolvemos fazer cabanas na sala de seu apartamento e sua mãe querendo arrumar a casa para a ceia..... agora entendo, também sou mãe. E aquela vez na missa do Galo, vc. deveria soltar a pomba branca na missa e pelo que me lembro ela não queria voar ou não queria sair da caixa, muito engraçado. Beijos Cassiana Cavazzani
Esses posts é que fazem ser seu blog o que ele é: simples, bacana e com histórias legais. Pena você não ter nenhuma imagem daquela menina com 9 anos correndo 2 quilômetros na praia por causa de um carro atolado. Bjs
"O muro gigantesco que eu adorava pular, agora é pequeno."
Como assim?! O muro diminuiu? Porque você continua pequena. E nem venha dizer que não...
Minha querida filha, só você mesma pra me fazer rolar as lágrimas antes das 10 horas da manhã!
Você escreve como poucos grandes escritores, sempre disse isso,somados a uma fidelidade ímpar quando trata-se de acontecimentos reais.
Incrível, com esse seu artigo você remeteu-me a décadas atrás como se estivesse vendo, hoje, um filme daquela saudosa época!
Até as fotos para dar uma veracidade inquestionável.
É difícil não se emocionar...
claro que não era a mesma zeladora. A dona Jandira já deve ter uns 100 anos...
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