Pé na tábua

19.8.08


Para Zeca

"Mulher no volante, perigo constante" já foi um ditado usado por Elizete. Ela tirou sua carteira de motorista, mas não praticava porque o marido não a deixava pegar o carro que ambos ajudaram a pagar. Em busca de emprego, foi cair justamente em uma vaga onde exigiam, além de conhecimento em planilhas no computador, carteira de habilitação. Não bastasse isso, teria de conhecer o centro de Curitiba. Sua única concorrente, uma professora de Informática que não sabia dirigir, ficou para trás. Ela também não sabia muito bem, mas disse categoricamente que sim. Se fosse só isso, daria um jeito.

Sabia somente o básico do Excel. Possuía carteira, era insegura na direção e desconhecia o centro da capital. Na primeira vez em que pediram para ir da empresa, em São José dos Pinhais, região metropolitana, até o centro de Curitiba, suava frio: “eu ficava o tempo todo secando as mãos na roupa, me dava dor de barriga e os carros andavam muito rápido porque o início do trajeto era na estrada”.

Algumas vezes, outros colegas iam de carona. Ela, calada, concentrada, morrendo de medo de cometer um deslize, era questionada por que razão estava muda. Dizia que estava prestando atenção no trânsito. Depois, pegou prática no Excel e aprendeu a se virar no centro. Seus colegas disseram que no início não dirigia bem, mas com o tempo foi melhorando. Mal sabiam eles que ela era uma motorista iniciante.

Elizete agora é taxista. O que era para ser apenas temporário, virou profissão. Está na função há quatro anos, dirige muito bem, pois eu mesma pude comprovar quando precisei pegar seu táxi. E mais, dirige e conversa ao mesmo tempo, coisa que não fazia antes. Conhece bem as ruas por onde andamos e trabalha de madrugada sem medo. Já se foi o tempo de sentir frio na barriga.

Um comentário:

Denise Machado disse...

Maravilhosa a taxista e a escritora! Lembrei de mim, aos 16, lutando por uma vaga de emprego. O futuro chefe perguntou se eu conhecia a IBM eletrônica e eu, confiante, disse "claro!", sem imaginar se era de comer ou para assistir. E fui pra cima dela,precisava.