O dragão da maldade e o ministro glutão

13.8.08


Meu pai era assinante de Veja. Perdi as contas de quantas vezes vi o dragão – representante da inflação – nas capas. Era a década de 80, período de descontrole nos preços. Sentia isso nos salgadinhos da Elma Chips. Os fiscais do Sarney chegaram a fechar o antigo Real, supermercado perto de minha casa por causa dos preços abusivos. A ordem era o congelamento de preços e salários. Os donos dos estabelecimentos esvaziavam as prateleiras para forçar a elevação do valor dos produtos. E houve um momento em que faltou sorvete durante o verão. Sei que faltaram mais coisas como leite e carne, mas criança, sabe como é.

Via meus colegas do primário cantarem a música de Roberto Carlos, “Jesus Cristo eu estou aqui”. Eu entendia, no lugar de Jesus Cristo, “seu ministro”. Ah, falavam tanto em alta de preços, desvalorização da moeda, ministro da Fazenda, claro, achei que era uma forma de peitar o poder, “seu ministro, eu estou aqui”, chamando para a briga.

Nas aulas de História do Brasil sobre os presidentes da república, fiquei abismada, onde estava Delfim Neto? Havia Delfim Moreira, mas era na época da República Velha. Descobri que ele nunca havia sido presidente, era apenas o ministro. Delfim Neto estava sempre na televisão falando sobre a economia desastrosa do país e por isso tive a certeza de que era nosso presidente.

Ele, com vários quilos a mais, disse para deixar o bolo crescer e depois repartiria com o povo. Engoliu sozinho tudo de uma vez, óbvio. Estou esperando minha fatia. Quando parece que vou pegar umas migalhas, olha lá, de novo o dragão nas capas das revistas.

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