A cidade que nunca foi minha

31.1.08


Não acredito em vidas passadas e muito menos em memória genética. Isso soa um tanto Lamarck e já me convenceram (pais biólogos) que Darwin estava certo. Como poderia então explicar uma sensação de já ter vivido em uma cidade onde nunca havia ido?

Demétrio Ribeiro, Barros Cassal, Theatro São Pedro, Praça da Matriz, IAPI, Esquina Democrática, Ramiro Barcelos, todos os lugares pareciam já meus conhecidos. Seriam meus antepassados? Todas as revoltas e revoluções, os gaúchos da família a galope estavam em meu sangue? Mas não acredito nisso, é totalmente irracional.

Com o tempo descobri, era influência de tantos livros lidos com personagens andando pelas paisagens da capital gaúcha. E antes disso, histórias da família contada por parentes. Deve ser daí a impressão de já ter vivido naquela terra. Fui então criando minhas próprias experiências, vivendo e fazendo amizades, fabicanos*, conhecendo lugares novos, Morro Santa Teresa, Floresta, Bom Fim, Usina do Gasômetro, Cidade Baixa, Garagem Hermética, Casa do Quintana, Praça da Alfândega, o tal Bar João, da música de Kleiton e Kledir.

Quando morava em Porto Alegre, adorava caminhar em volta do Rio Guaíba, principalmente no segundo semestre de 1999. Fiz a maluquice de me matricular em várias disciplinas. Quando ficava louca com tanto estudo, saía para ver o rio. Ia e voltava a pé do Gasômetro até o estádio do Beira-Rio (procure em um mapa, eu andava muito). Levava walk-man e ouvia Milton Nascimento. Até hoje quando escuto as primeiras notas do baixo na música Clube da esquina II sinto-me como se estivesse em Porto Alegre, um dia de sol, eu olhando um barco preguiçosamente atravessando o Guaíba. "E o coração na curva de um rio, rio, rio".

Torci pelo Inter, como já há tempos fazia, influenciada pela maioria colorada da família. Tentei adotar a cidade como minha. Não deu certo, voltei. Agora vou no embalo de Vitor Ramil em Ramilonga: "Olho o cotidiano, sei que vou embora. Nunca mais, nunca mais".

"Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí(...)

Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
Nada mais, nada mais."

*Fabicanos: estudantes da FABICO (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS)

9 comentários:

Vinícius Graça disse...

grande blog!
li até a vista doer!
e parei pra deixar um comentário...
está linkada no meu blog, problema?
comecei pouco tempo...
ainda tenho muito que colocar e deletar, mas em breve espero estar com tudo!
sucesso (mais!) com o blog!

Eugenio Hoch Junior disse...

Conheci Porto Alegre quando viajei com a Luiza nas nossas férias do trabalho. Estava curioso para conhecer uma cidade longe de Curitiba (o lugar mais longe que eu fui antes foi o Rio de Janeiro)e também um pouco assustado, pois seria minha primeira viagem de avião, e esses estavam caindo a torto e direito, mas fui.
Queria conhecer a cidade que tanto A Luiza falava, gosto da alegria que estampa no rosto dela quando fala de Porto Alegre...Mas...Eu, estourado como sou, já cheguei reclamando de tudo. Eu só via bagunça e desorganização lá, (resquícios de um curitibano onde tudo é certinho e reto) tinha mais camelôs que transeuntes, acho que 5 para cada habitante de lá. Só depois de muito reclamar é que fui mais tarde pensar que eu estava falando mal da cidade onde a Luiza morou, e que gosta tanto. Ela ainda me mostrou alguns lugares por onde ela andava e gostei de conhecer o Museu do Mário Quintana, principalmente o quarto dele, achei bacana aquele ar nostálgico daquele lugar, me mostrou Elis e me explicou várias outras coisas...Então, o que quero dizer é o seguinte: Luiza, desculpe minhas reclamações e explosões, depois de muito refletir sei que Porto Alegre têm um lugar especial no teu coração, e eu espero nunca mais falar mal dela. Quem sabe até voltar, e ver com outros olhos. Beijos. Amo tu.

Rafael Carvalhêdo disse...

Nós não percebemos, mas vivemos quando lemos, assistimos e imaginamos. Por isso esses Deja-vus são tão comuns...
Não acredito em outra vida, até pq me parece lógico que essas idéias surgiram dessas sensações.

Gostei muito das descrições dos momentos em Porto Alegre... to até baixando as músicas pra sentir melhor a cena. rsrs

Thiago! disse...

gostei muuito do blog!

parabens por ele!

Koga disse...

tem horas que eu também sinto essa sensação já ter estado num local
é algo bem estranho... eu não diria que é irracional, apenas inexplicável...
curti muito o blog... nota 10

Ronaldo disse...

Conhecer outros lugares é tudo de bom, ainda mais esse lugar, que é fantastico

José Vitor Rack disse...

Luiza, minha prima foi enfermeira do Quintana, acredita? Bem no final da vida dele.

Amo Porto Alegre. Tenho parentes no IAPI, no Lindóia, na Floresta, enfim. Minha mãe nasceu no Sarandi, passou por vários bairros e, quando mudou-se pra cá, morava no IAPI mesmo.

Meu pai "ficou" com a Elis Regina. Ambos novinhos, claro. Minha mãe era manicure dela. Minha tia era cabelereira dela e da dona Ercy, mãe da Elis viva até hoje. Elis ficava naquele secador gigante, de bobs na cabeça, cantando e entretendo as freqüentadoras do salão...

Anos 60 que eu não vivi.

Love

Vitor

SINOPSE INACABADA – CRÔNICA BLOG

Denise Machado disse...

Nossa! Afe!
Me fez sentir uma saudade danada de POA.
Cidade baixa então...
E a inveja? Nunca ouvi Milton Nascimento enquanto rodeava o Guaíba... Deve ser delicioso.
Pra variar, tu estás escrevendo que é uma "chimia"(doce), Guria. Tem "colono"(grosso) que não gosta da Capital Gaúcha... Só porque moram num "Cocoruto" (montinho de terreno)qualquer, que a mídia insiste em maquear. Capaz! Tirando o Grêmio que é uma "lombeira"( falta de saco), Porto Alegre é Bá! Tri legal!

Larissa Santiago disse...

ahhhh , sempre quizzz conhecerr Porto! acho uma cidade fantasticaa!
parabens pelo Blog ;)