Bichos sujos

17.1.08

Dez anos se passaram. Lembro como se fosse hoje, eu em Curitiba, o resultado em Porto Alegre. Internet nem pensar, na época não sabia nem segurar um mouse, aliás, não sabia para que servia tal dispositivo. O jeito foi telefonar para os cursinhos gaúchos. Ocupado. Redial. Ocupado. Foi essa tortura durante uma meia hora. O medo aumentou quando o telefone começou a chamar. A voz do outro lado perguntou meu nome e "aprovada", disse ela. Choros, abraços, tontura e a dúvida. Será mesmo? Eita São Tomé. Ligação novamente. Sim, estava certo, eu era uma caloura.

Alguns anos antes do meu vestibular, havia uma propaganda de um famoso cursinho que dizia o seguinte: "passar no vestibular é um grande desafio. Por isso, não estranhe essa gente que não sabe se ri ou se chora, amanhã pode ser você". Sou manteiga derretida, chorei no final de "Monstros S.A.", é óbvio que chorei vendo esse comercial, mesmo achando um pouco brega. Está bem, eu me emociono até hoje só de lembrar. Quando passei no vestibular, veio isso na minha cabeça. "Amanhã pode ser você", sim, eu queria aquilo mais do que qualquer outra coisa e havia chegado o dia.

Mês de janeiro é assim, um bando de jovens enlameados com a cara suja de tinta gritam pela cidade. Acho divertido, ao contrário de outros. Só quem não passou por isso reclama, chamam-nos de ridículos, mas passar no vestibular em uma universidade pública é uma grande conquista pessoal. Os pais ajudam, pagam os estudos, incentivam, mas na hora do concurso é o estudante e a prova, nada mais. Como posso achar ruim, dizer que são uns exagerados se na época foi para mim a melhor coisa do mundo? Se falam, "aí, tia, estou na Federal", vou logo dando parabéns e perguntando qual é o curso. Bato um papo e depois reclamo de terem me chamado de tia. Calma aí, não cheguei ainda aos trinta, estou quase lá. Despeço-me, vou para casa de ônibus e eles a pé. São proibidos de subir em coletivos daquele jeito. Mas não ligam e saem pulando e cantando pelas ruas irritando os mal-humorados.

6 comentários:

Marjorie disse...

Olá

Sei bem qual é a sensação de passar, e não passar no vestibular.
A primeira você chora, mas de felicidade, sabe qu tem o mundo aos seus pés.
A segunda você perde o chão e acha que o seu mundo acaba, e de certa forma acaba mesmo.

Achei muito interesssante o tema da postagem, e nas próximas semanas serei eu quem estarei andando pintada pelas ruas, afinal, fui aprovada.

;D

Um grande beijo

Del

Luiza Prestes Karam disse...

Parabéns! É uma sensação maravilhosa, gostei mais de ter passado no vestibular do que da formatura.

Fábio Ricardo disse...

Fiz 3 provas de vestibular. Passei nas duas particulares, não consegui entrar para a Federal. E como foi comentado anteriormente, a vitória de ter passado no vestibular é mto maior do que a de ter se formado! Mas como eu nao passei na federal, a minha não foi assim tão grande. Mas deveria ter sido, pois a faculdade foi o melhor período da minha vida.

valéria mello disse...

Fiz vestibular em uma faculdade particular que fica a poucos metros da minha casa. O curso de Letras estava reabrindo depois de muitos anos fechado, estavam formando apenas a terceira turma, e eu, saída do colegial regular, concorri com pessoas que vinham do magistério e do supletivo, mas ainda assim a sensação de passar no vestibular, em primeiro lugar, foi ótima. E ainda ganhei uma bolsa parcial. Mas consegui escapar da bagunça. Na verdade, a farra mesmo é mais no curso de Educação Física. Todos os anos os calouros passam aqui em frente sofrendo nas mãos dos veteranos.

Luiza Prestes Karam disse...

Passar em qualquer faculdade é bom, sendo particular ou pública. A vantagem da pública é por ser gratuita e nosso bolso agradecer. Eu também fugi do trote, mas quando passei na segunda faculdade, que não terminei. Da primeira vez, falaram-me que se eu não participasse do trote, ninguém ia falar comigo e eu ia ficar isolada. Eu, ingênua, acreditei. Mas da segunda vez fui mais esperta, menti que já era veterana.

Denise Machado disse...

Vc me remeteu a um passado, maravilhosamente.
Coisa mais boa foi ter encontrado esse lugar pra ler!
Leitura de boa qualidade, pessoal, tranfirível... muito bom.