Relatos de uma professora incipiente I

1.1.12


Ah, as tão esperadas férias! Às vezes, mesmo amando o que fazemos, almejamos muito uma folga, fazemos contagem regressiva com o calendário nas mãos. Comigo não foi diferente, mas ao mesmo tempo que se aproximava o fim, também uma sensação de vazio ia surgindo, ainda mais na última semana em que tínhamos de fechar as notas e não havia mais a presença dos alunos no colégio. Escola sem aluno é deprimente, como dizia uma tia-avó. Então, chegaram as férias, mas aí me deu uma tristeza, uma vontade de dormir até mais tarde...

Porém, não posso deixar de registrar um momento importante. Houve outros, é claro, poderia escrever um livro sobre meus maravilhosos alunos, pessoas sensacionais, até mesmo aqueles que mais me estressaram, cada um possui algo único e ainda bem que tenho capacidade para reconhecer isso.

Para mim, o mais marcante foi ter conhecido pessoas diferentes na última escola em que lecionei, alunos, funcionários e professores, e deste último grupo, em especial a professora Sílvia, de História. Cheguei em setembro, final do 3º bimestre. Entrava na sala dos professores e só havia reclamação, cansaço, estresse. Era natural, mas não para a Sílvia. Sempre bem-humorada, tratando todos com muito carinho, chamando os outros de "meu amor", rindo das traquinadas dos alunos. Ela saiu um pouco antes de terminar o ano letivo, para tratamento médico e também porque havia saído sua aposentadoria.

No encerramento do ano, foi celebrada uma missa no auditório do colégio com a presença de professores e funcionários e a Sílvia foi homenageada. Muitos professores quiseram agradecê-la, contar o que aprenderam com ela, como havia sido a convivência com pessoa tão maravilhosa. Todos falaram bem, mas nenhum se expressou melhor do que ela: a própria Sílvia.

Esta professora de História pegou o microfone e deu uma aula de cidadania, educação e respeito. De início, ela falou que como educadores, líamos muito Paulo Freire, Maria Montessori, mas na prática, o que deveríamos levar em conta é que cada aluno é um indivíduo único, diferente dos outros e que não podemos padronizá-los. Disse que eles não são obrigados a gostar de sua matéria, muito menos do professor. No entanto, cada obstáculo vencido pelo aluno deve ser reconhecido pelo professor.

Falou ainda que, como temos quatro horas por dia com os alunos em sala de aula, temos muito mais influência do que a mídia, devemos saber utilizar dessa influência para transformar a sociedade em um espaço mais solidário, justo e igual porque estamos inseridos em um sistema injusto e cruel, o capitalismo. Contou-nos sobre um aluno que tinha uma dificuldade enorme em se apresentar em público e que depois de muito esforço, conseguiu apresentar um trabalho para a turma, o que a levou aos prantos. Lembrou-nos também de algo muito importante e que talvez a maioria ali presente tivesse se esquecido ou nunca quis aprender: estamos ali pelos alunos e eles são os mais importantes dentro de uma escola.

Tive oportunidade de trabalhar pouco tempo com essa figura maravilhosa, fico feliz de saber que há pessoas como ela, saber que ainda há esperança na educação. Ela, com seus sessenta anos, poderia estar desgostosa da profissão, desiludida por causa da indiscíplina, mas não, estava sempre disposta e talvez com ela nem houvesse bagunça em sala, devido a sua paixão e crença na educação, fizesse os alunos se interessarem. Ela nos faz crer que por meio da educação podemos transformar o mundo em um lugar mais íntegro.

Um comentário:

Eugenio Hoch Junior disse...

Se eu tivesse uma professora igual a você na escola, eu pedia em casamento na hora! De verdade! Beijos.