Amigo colorado

17.12.10
Meu time perdeu. Para alguns, foi um vexame. Não vejo assim, afinal de contas, se ele disputava uma vaga na final, e havia um Mazembe pela frente, é claro que a partida não estava ganha. Fosse assim, já teríamos ido direto para o jogo contra a Internazionale.

Há exatos quatro anos, o Colorado ganhou o Mundial em cima do Barcelona. E cada vez que o Inter se sobressai em campeonatos internacionais, lembro-me do Marcell, colega da Fabico que partiu cedo demais há dois anos. Encontrei esse depoimento no site do nosso time escrito por ele:

"Loteria Calendário ingrato! Isso mesmo, logo comigo que durante esses 26 anos de minha vida matei no peito as provocações arrogantes vindas de lá e guardei na mente o nosso sonho de cá, de chegar à Tókio e quem dera à Yokohama. Nos cinco dias que abalaram o mundo meu mundo também estava abalado. Estava há quatro meses (desde agosto) me preparando para o fuso-horário das nossas vidas: a virada da massa colorada! Desde o dia sem fim, todos os dias já eram sem fim. Eis que durante esses quatro meses, durante esse período de concentração diária, acabo perdendo meu emprego, acabo perdendo minha estrutura financeira. Uma semana após esse fato surge uma oportunidade ímpar de me estabilizar novamente e realizar outro antigo sonho: um emprego público. Pois é aí, nesse momento, verificada as circunstâncias, que venho aqui repetir com todas as letras: calendário maldito. Não, não, tudo menos isso... coração partido e o olho puxado, mas agora puxado de desespero. A prova do concurso não só era no mesmo dia do jogo mais aguardado de quase um século, mas também no mesmo horário!!! No dia em que a terra parou, eu também quase parei, pois tinha a pior escolha que um colorado poderia fazer: a prova ou o jogo? – não se ponha em meu lugar. Em 364 dias do ano a prova era justo naquele 17/12 e pela manhã ainda. Ah meu velho isso era demais, porque fizeram isso comigo? Os deuses só podiam estar loucos. Os dias de luta, alegria e choro nas partidas... A geral do Beira-Rio, os cantos, os ritmos, os ecos da massa... as camisas vestidas, o manto empunhado, enfim, todos os sentimentos se afunilavam naquela manhã. Ingrata coincidência e infelizmente não se tratava de uma coincidência lotérica. Como a maioria avassaladora do Rio Grande não dormi na noite anterior e parti, ainda na madrugada do dia 17/12, para a cidade de Sapucaia do Sul para marcar na grade de resposta da prova o X da questão – que encruzilhada estava. lógico que devidamente fardado, com livros nos braços e na contra-mão do fluxo vermelho saí e aquela situação inusitada para tal dia, embora parecesse, não era mais uma simpatia maluca, naquele dia INTERNACIONAL das simpatias. Não me pergunte o óbvio, aonde estava concentrado naquela manhã? Só me lembro de vislumbrar ao redor e aguçar ao máximo o ouvido a fim de perceber alguma reação externa, só me lembro de ouvir um estribilho ensurdecer vindo de longe e inundando aquela sala de aula, minha imaginação inundou também. Um raio de luz penetrava por algumas classes e me dei conta que estava na cadeira iluminada!!! Tremi!!! Era o destino, simplesmente impossível não comparar. A caneta vai ao chão. Senhor do céu, só podia ser... e foi. O clímax de minha vida e não vi nada!!! Soluço e choro sobre a folha... No dia 17/12/2006 nosso INTER finalmente encantava o planeta, Gabiru heroicamente gritava aos ares e eu, futuramente vim a descobrir, passava num concurso público. Realmente não foi uma coincidência lotérica, foi infinitamente melhor do que isso! "

Marcell Souza de Souza

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