Médico e filhos

Dizem que um de nossos imperadores, o Pedro II, mais precisamente, apreciava fotografias e tirou várias com sua, não sei se a denominação para a época era esta, câmera. Encontraram um acervo dos retratos que ele fotografou na Biblioteca Municipal do Rio. Aliás, dizem que sempre encontram coisas interessantes por lá.

Mas, o assunto não é sobre a vida da monarquia e sim fotos, principalmente de família. Por exemplo, aponte-me um médico que não tenha sobre sua mesa os filhos posados para o retrato. De preferência fazendo que estejam descontraídos, quando na verdade tiveram de parar a brincadeira para se incomodarem com os cliques e flashs do pai-doutor.

Antes achava brega, mas de tanto ver isso pelos consultórios afora (quando se tem plano de saúde, há de se visitar todos os médicos da lista), já acho comum aquelas crianças com sorriso com as janelinhas na boca. Parei para pensar, médico trabalha muito, ainda mais com os planos de saúde pagando pouco, eles labutam agora em dobro. Não sobra mais tempo para verem a família, quer dizer, os médicos sempre veem a família, ela é que não vê mais o pai ou a mãe.

Dizem que tais profissionais são tão frios que nem sentem a falta dos parentes. Bobagem, é que eles sempre têm ali na mesa ao seu alcance a família e entre um paciente e outro, sempre dão uma conferida para se lembrarem dos entes queridos. Contudo, os filhos já nem se lembram dos pais médicos porque quando querem tirar uma foto para fazerem o mesmo, matarem a saudade, os pais não deixam porque os filhos podem quebrar a câmera.

Soube de um caso curioso, o médico atendia seus pacientes pela manhã e à tarde fazia cirurgias, muitas delas se estendendo até a noite. Um dia, o cirurgião chegou mais cedo em casa e viu em sua cozinha um barbudo comendo seu bolo preferido. Mais que depressa, pegou uma faca e ameaçou o desconhecido que na verdade era seu filho. É que a foto que havia em seu consultório era a do filho quando era criança. Naquele momento, ele percebeu que era o momento de se aposentar.