De blogs bons

18.6.10



Às vezes eu ficava sem ânimo no meu antigo trabalho. Também pudera, aquele povo me deixava louca, principalmente em feriados e finais de semana, dias em que a locadora de vídeo ficava mais cheia. Para piorar, os mais chatos da cidade parece que combinavam de aparecer todos ao mesmo tempo. E havia também o telefone que não parava de tocar. Quando atendia toda solícita, era um inconveniente pedindo algo impossível e com insistência. No apuro, ao atender simplesmente com um seco "alô", sem dizer o nome da locadora, meu nome e um cumprimento, algo exigido pelos chefes, do outro lado estava o dono do estabelecimento ou sua esposa. Achavam então que eu era sempre assim.

Num sábado movimentado, o telefone tocou. A pessoa do outro lado pediu não lembro qual título, e como estava locado, não sei o que me deu, peguei o telefone sem fio e fui olhar a minha seção favorita para ir falando o que tínhamos de melhor ali. Eu poderia simplesmente dizer, não tem e fim de papo. Porém, a intuição ou a percepção de ser uma pessoa agradável, fez com que a gentileza falasse mais alto. Era Cecília, pessoa extremamente simpática. Ficamos alguns bons minutos falando de filmes e outras coisas ligadas à cultura.

Algum tempo depois, um homem alto, parecido com o Hermeto Pascoal em um Corcel II, apareceu lá perguntando por mim. Disse ser o marido de Cecília. Era José Zokner, que me fez chamá-lo de Juca. Entregou-me uma mariola de banana e um origami de flor amarela (ele mesmo fez) como agradecimento por ter separado os filmes. Muito bem humorado disse: "esses dias eu e minha mulher fomos ao motel e chegando lá eu disse, o que viemos fazer aqui mesmo?" Todos em volta caíram na risada, funcionários e até mesmo clientes desagradáveis.

Daí aconteceu de Cecília em outros dias ligar e sempre pedir para eu indicar filmes. Nunca a vi, ela sempre ficava em casa enquanto Juca aparecia por lá. Na época ambos escreviam para o jornal O Estado do Paraná. Ele começou a enviar para mim por e-mail as colunas dos dois. Posteriormente, criou o blog Rimas Primas, mesmo nome de seu livro. Além da inteligência, a ironia é também sua marca registrada. Por exemplo, é com muita irreverência, mas com alfinetadas que ele constata as semelhanças entre pobres e ricos que a sociedade vê como diferenças. Lá vão algumas:

“Rico tem amigos; pobre, comparsas.”

"Pobre, nunca quer reconhecer seus erros; rico, nunca erra."

"Rico, a esposa tem genitora; pobre, tem sogra."

"Rico é perito; pobre, sempre merece um pito."


E vão lá ler o Juca!

2 comentários:

Eugenio Hoch Junior disse...

Muito legal. Só quem vivenciou um fim de semana neste local que você cita sabe o inferno que é aturar gente grossa e ignorante. Mas poucos, como o Juca (José Zokner)e outros que dá para contar nos dedos fazem o dia valer um pouco a pena. Bjs.

february star disse...

tô indo!
caraca, preciso ler seus textos novos.
beijo