"Página infeliz da nossa história"

31.3.09



Trinta e um ou 1°, o dia não importa, o fato é que o golpe militar de 64 não foi nenhuma mentira. Tampouco a ditadura que dele se desenrolou. O regime militar foi cruel e duradouro. Quarenta e cinco anos depois da deposição de João Goulart e apenas 19 anos de plena democracia, desde a posse de Fernando Collor, ainda encontramos alguns obstáculos.

Em 1992, quando Collor renunciou, Itamar Franco, seu vice, encontrou certa resistência de setores ligados ao antigo PFL (atual DEM) identificados a Antônio Carlos Magalhães. Argumentavam que Itamar não possuía representatividade porque não havia sido eleito diretamente pelo povo. Mas, a Constituição previa e prevê a posse do vice em caso de renúncia do presidente. Estavam eles com ideias golpistas, herança da ditadura, época em que conseguiam tudo à força.

Hoje, mesmo com um presidente petista, nas empresas, tanto públicas quanto privadas, qualquer pessoa que ande com jornais de sindicatos embaixo do braço ou livros de militância esquerdista, é vista com maus olhos pelos chefes. Sentem-se de alguma forma ameaçados porque quanto menos ignorante o trabalhador, mais difícil a sua manipulação. Aí as demissões correm a solta. São resquícios de tempos que Chico Buarque descreveu muito bem em Vai Passar. Infelizmente essa época ainda não passou.

Vai passar
(Chico Buarque/Francis Hime)

Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais

Num tempo página infeliz da nossa história,
passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações

Seus filhos erravam cegos pelo continente,
Levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,
O carnaval, o carnaval

Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
E os pigmeus do boulevard
Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade até o dia clarear

Ai que vida boa, ô lerê,
Ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral... vai passar

2 comentários:

Eugenio Hoch Jr disse...

Sim, sim, sim. Quem não conhece direito a Luiza pensa que ela é apenas mais uma blogueirinha neste vasto mundo internético. Mas essa mulher tem conhecimento da causa. Não que ela tenha vivenciado esse período, porque ela nasceu beeeem depois, mas ela é uma pessoa que sempre se interessou pelo assunto e sempre lembra(não, ela não é aquelas militantes chatas com camiseta do Che),de um modo ou de outro, desse passado negro pelo qual passou nosso país e que ainda em alguns lugares parece que ainda não terminou.
Sempre escreva.
Beijos.

Wanessa disse...

A mancha na historia do Brasil que dificilmente sera apagada....o problema esta em vivenciar as mesmas pessoas na politica e na organizacao do pais (desculpa a falta de acentos, o computador esta pifado!). Beijos.