Admiração

4.10.08



Na faculdade, em 2002, Zeca, professor já citado neste blog, durante aulas de História da Arte pediu que os alunos fizessem entrevista com algum artista plástico de Curitiba. Ele deu uma lista de pessoas e uma pequena biografia de cada um. Como não entendo de artes plásticas, escolhi Carlos Dala Stella porque, dentre outros trabalhos, fez as capas dos livros de Cristóvão Tezza, escritor cuja literatura aprecio muito. Carlos me concedeu entrevista por telefone e falou sobre seu último trabalho, um livro com imagens de diferenciadas bicicletas que encontrou pelas ruas quando esteve no Canadá. Comentou que fotografia sempre fascinava as pessoas, inclusive informou-me que Tezza estava prestes a lançar um livro com o título "O fotógrafo".

No ano seguinte, trabalhei em uma locadora de vídeo. Estava guardando alguns filmes, quando no balcão de cadastro de novos clientes Tezza preenchia sua ficha. Não me contive e exclamei alegremente, "Cristóvão Tezza!!" Vi pela sua cara que procurava em sua cabeça um arquivo mental "quem será essa louca? De onde a conheço"? Enquanto ele pensava eu também matutava, "como me apresentarei, sou uma fã maluca que adora seus livros ou, uma vez falei com você por telefone porque o Charles Kiefer pediu para eu fazer um convite para você ir a Porto Alegre e participar da Feira do Livro ou, sou filha do Elias Karam, seu colega de universidade e de greves". Optei pela última.

Alívio, deve ter pensado ele. É muito ruim quando tentamos cavacar na mente o rosto de uma pessoa que conhecemos, mas não sabemos de onde. Não gosto de ficar tietando ninguém. Ele escolheu um filme e fui fazer a locação. Meio constrangida com o silêncio, resolvi abrir a boca:

- Você está escrevendo um livro sobre um fotógrafo, não é?

E ele me respondeu meio surpreso:

- Você está bem informada, não é?

De fã chata passei a jornalista intrometida. Expliquei sobre a entrevista com seu amigo Carlos. Senti-me sem chão. Ninguém mandou eu ser tão atrevida, mostrar que tinha conhecimento. Idiota, burra, estúpida, pensei.

Quatro anos depois, fui com meu pai no lançamento de seu último livro "O filho eterno". Na fila, quando chegou nossa vez, Tezza abraçou o amigo, feliz pelo reencontro. Meu pai me segurou no braço e disse:

- Esta é minha filha, grande admiradora de suas obras.

Tezza não me reconheceu. Ainda bem porque dessa vez apenas apertei sua mão, nada de constrangimentos. Apenas dois curitibanos silenciosos, como quase todos os outros. Mas se tiver a oportunidade de reencontrá-lo, o parabenizarei pelo prêmio Jabuti deste ano e direi que, assim como seu personagem Trapo acusava irracionalmente Fernando Pessoa de roubar seus poemas, eu também passo pelo mesmo problema ao ver minhas idéias em suas crônicas antes que eu as coloque neste blog. Sempre que penso em um tema para escrever aqui, leio a coluna de Tezza no jornal às terças-feiras e me deparo com o mesmo assunto. Claro, ele escreve mil vezes melhor. E fico injuriada de não ter escrito antes porque não conseguia encontar a melhor forma de me expressar com clareza.

Paciência, o negócio é continuar lendo e admirando: Ser escritor

Um comentário:

Eugenio Hoch Junior disse...

Comigo é assim mesmo.
Todo mundo me conhece e eu não lembro de ninguém. O Tezza é cliente da locadora? Nunca vi ele lá. Já sabe como funciona.