Medo*

29.5.10



Havia um tempo em que eu achava todas as pessoas com ideias convincentes. Acreditei de fato no discurso de Ronaldo Caiado quando almejava o cargo de presidente da república na eleição de 1989. Tudo bem, eu tinha apenas dez anos. Quatro anos depois, em uma aula de Sociologia, li um texto que me deixou com a pulga atrás da orelha. Ali falava que deveriam existir pobres e ricos para haver equilíbrio.

Hoje, certamente, tenho outra cabeça. Mesmo um grande ídolo falando certas asneiras, não caio mais nas graças de belas palavras. Aliás, muito me choca por uma mente que parece ser tão brilhante para a ficção, falar, ou melhor, escrever coisas sem fundamento.

Não citarei o nome, apenas indicarei o temor de nós, pequenos burgueses, com relação a coisas que possam nos tirar da rotina segura de nossas vidinhas medíocres. Porque aqueles que sofrem cada vez que mais um dia nasce e não têm o que dar aos filhos comerem e se tiverem hoje, não sabem como será o amanhã, não estão preocupados com uma possível guerra nuclear. Aliás, se houvesse talvez fosse o fim do sofrimento.

Mas, aqueles que passeiam pela Europa ou pelos Estados Unidos temem um novo 11 de setembro. Não percebem, ou melhor, não querem ver que se americanos foram atacados em 2001 é porque muitos outros foram vítimas de seu governo com a política de dominar as nações por meio da força. Não justifica, mas explica. Aqui mesmo no Brasil, a tal Guerra Fria, para nós foi bem quente, prova disso foi o medo de o comunismo se instalar nessas terras e instituírem a ditadura militar. Por causa dela tivemos de esperar quase 30 anos para podermos votar em Caiados da vida. Então, até aqui, país pacífico, a CIA se intrometeu.

Claro que uma hora a bomba ia estourar. Ou o mundo deveria ficar engolindo sapo? As nações mais desenvolvidas (com certeza não intelectualmente) podem ter qualquer tipo de armamento, produzir qualquer espécie de tecnologia. Mas, aqueles para lá do meridiano, que divide a Terra em seres humanos e seres sem emoção, não há chance, o mundo precisa continuar girando com os poderosos e os explorados, nada de igualdade, assim como o tal texto que li aos 14 anos.

*Antes de 1971, havia acento em mêdo (temor) para diferenciar de medo (habitante da antiga Pérsia, atual Irã). Leia o título como quiser.

2 comentários:

Eugenio Hoch Junior disse...

Achei o texto difícil...explica melhor pra eu?

Luiza Prestes Karam disse...

Algo interessante que Nei Lisboa escreveu, serviu para me animar um pouco mais:

Never before

Nunca antes na história deste universo ficou tão fácil escolher um lado em uma querela de política internacional. De qualquer ponto de vista que se queira olhar, geopolítico, ético, humanitário ou religioso, a posição dos EUA é indefensável, incoerente, irresponsável e, à luz do declínio de um império, patética.

Mas os luminares da academia e diplomatas (i)nativos chamados a opinar julgam que o Brasil se excede, ou que se isola, ou se equivoca – qualquer argumento que justifique seu medinho eterno de contrariar o amigão Tio Sam.

Celso Lafer, Sergio Amaral, FHC, essa turma toda junta e empilhada não chega nem aos pés do Celso Amorim. Posso ter – e tenho – fortes ressalvas ao governo Lula em outras questões. Mas para a política externa, tantas vezes destratada por desinformação ou canalhice explícita, só tenho elogios. E um orgulho inédito de ser brasileiro. Afinal, nunca antes na história daquele país, o da Hillary, alguém usou de tanta elegância para desvelar a constante e injustificável violência que propagam.