De
uma forma bem simples, farei a comparação entre Física e Gramática Tradicional,
também conhecida por Normativa ou Prescritiva. Os físicos observam o
comportamento de um objeto em determinadas condições, fazem experimentos, testam,
descrevem fenômenos até formular “regras” ou “leis” que se repetirão naquelas
mesmas condições. Os gramáticos tradicionais, por outro lado, não observam como
as pessoas falam ou escrevem. Eles ditam regras estilísticas de como os
falantes devem utilizar a linguagem. Ditam normas que serão impostas em
aborrecedoras aulas de Língua Portuguesa.
Porém,
ao contrário dos gramáticos tradicionais, os linguistas tentam formular regras
descritivas que expressam generalizações e regularidades sobre vários aspectos
de uma língua. Ou seja, como fazem os físicos e demais cientistas, observam, no
caso, a maneira como as pessoas utilizam a linguagem, sem se importarem se
estão de acordo com o que dita a Gramática Normativa. A Linguística é uma
ciência nova perto da Física, e por isso, ainda encontra obstáculos em sua
aceitação.
A
Física não quer prescrever como os corpos devem se comportar. “A partir de
hoje, fica instituída a proibição da inércia ou a queda livre”. Isso é tão
absurdo, mas não nos parece estranha a ideia de se impor regras estilísticas
para a fala ou para a escrita. Isso ocorre porque durante muitos anos, a
Gramática Tradicional ocupava grande parte das aulas de Língua Portuguesa. Além
disso, as pessoas, apoiadas nessas tradicionais aulas, têm o costume de
corrigir os demais falantes e de taxar de ignorante aquele que não segue as
regras impostas pela Gramática Normativa.
As
regras prescritivas determinam o modo como o falante supostamente deveria falar
ou escrever para parecer correto ou culto. As regras prescritivas, assim, são
regras estilísticas e não gramaticais. A classe dominante utiliza a norma culta
por dar mais status, ao contrário da variante popular. Vira uma forma de
segregação, apoiando-se entre outros fatores, no modo como as pessoas se
comunicam. A norma culta é necessária, mas somente ficar restrito ao
ensinamento da mesma é falha. Felizmente muitos educadores, tardiamente,
diga-se de passagem, estão se dando conta disso. O problema reside na
resistência de se aceitar mudanças no currículo escolar consideradas profundas,
tanto pela mídia quanto pela sociedade em geral.
Outra
comparação entre Física e norma culta está no fato de não haver uma unidade de
medida mais correta que a outra com relação à temperatura. Não podemos dizer
que Fahrenheit é mais certa do que Celsius ou Kelvin, simplesmente por se
tratarem de convenções adotadas pelos indivíduos. Assim também ocorre com a
linguagem, existem padrões diferentes e dizer que um é mais correto do que o
outro é a mesma incoerência entre as escalas de medidas de temperatura. As duas
variantes, norma culta e popular cumprem com eficácia o seu papel como meio de
comunicação. Por isso, não existe uma mais correta do que a outra.
2 comentários:
O que comentarei aqui nada tem a ver com o texto desta postagem, mas eu preciso fazer essa pergunta: agora que você terminou a sua quarta faculdade, verei (ou veremos) novos textos neste blog? Por favor, não deixe de escrever, nem que seja uma linha. Beijos de seu fã nº 1.
Concordo com meu querido genro Eugênio sobre a continuação constante e sem interrupções de seus importantes textos neste blog.
O Eugênio pode e deve ser seu fã nº1, porém sou seu fã Hour Concour, desde o momento da fecundação que a originou,querida filha.
Sobre este texto seu brilhantismo como sempre, brilhou mais uma vez ao fazer a comparação entre a Física e a Gramática.
Prende o leitor a uma leitura contínua e singularquerendo ver até onde vão as comparalçoes muito pertinentes.
Parabéns mais uma vez por nos agraciar com seus textos sempre inteligentes e que nos aguça nosso espírito crítico.
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